terça-feira, 27 de maio de 2014

Narendra Modi toma posse e promete "futuro glorioso" aos indianos...

O novo primeiro-ministro da Índia foi empossado perante mais de quatro mil convidados, incluindo, pela primeira vez na história, o seu homólogo do Paquistão.

Narendra Modi, o líder do partido nacionalista hindu BJP e cabeça de lista da coligação conservadora que arrebatou as eleições da Índia e pôs fim à dinastia Nehru-Gandhi no poder desde a independência, foi empossado primeiro-ministro numa cerimónia em que se falou do “futuro glorioso” do país – e de uma nova era de “desenvolvimento e estabilidade” na qual a Índia se destacará pelo seu compromissocom o “fortalecimento da causa da paz mundial”.
A investidura de Modi e do seu Governo, num palco montado nos jardins do palácio presidencial de Nova Deli, decorreu perante uma plateia de mais de quatro mil convidados, e foi seguida na televisão por milhões em toda a Índia. Pela primeira vez, todos os chefes de Estado da região, incluindo do vizinho Paquistão, assistiram à tomada de posse dos titulares políticos da maior democracia do mundo – “Um gesto promissor”, decretou a imprensa indiana, que leu no gesto uma demonstração da vontade do Governo em pôr fim à tensão e instabilidade que caracteriza as relações bilaterais.
Modi prometeu “manter a integridade” da Índia e trabalhar “sem favorecimento, sem medo, sem ódio ou má vontade para levar a justiça a todos, tal como prescreve a Constituição e a lei”. Palavras provavelmente destinadas a acalmar os críticos que temem pela concentração do poder nas mãos dos nacionalistas hindus, cuja histórica maioria parlamentar lhes permite legislar sem negociação com outras formações políticas.  E que também pretendem apagar as dúvidas daqueles que não querem ver a autoridade de Estado depositada nas mãos de um homem cujo papel (enquanto governador do estado de Gujarat) num terrível episódio de violência religiosa que culminou com o massacre de centenas de muçulmanos, há 12 anos, ainda levanta muitas suspeitas.No seu esforço por ultrapassar as controvérsias, Narendra Modi insistiu na sua visão de uma “Índia unida e forte”, uma nação “desenvolvida e inclusiva”, que é um “actor activo na comunidade global” e que defende sem intransigências a “causa da paz mundial e do progresso”. Os seus discursos pós-eleitorais têm merecido elogios constantes na imprensa nacional, que tem saudado o “potencial de transformação” económica e social da Índia com o líder do BJP, “que ousou desafiar a ortodoxia, a sabedoria convencional e as assunções sociais”, como escreveu o comentador Swapan DasGupta, citado pelo The Guardian.

Fiel à fórmula de “menos Governo e mais governação” por que se bateu durante meses de campanha e eleição, o novo primeiro-ministro apresentou uma equipa executiva minimalista e assumiu a centralização do processo decisório em Nova Deli. Numa mensagem publicada no Twitter na véspera da tomada de posse, Modi já tinha revelado que o formato do seu Governo constituiria um corte “positivo e inédito” com o passado: o novo primeiro-ministro reduziu o número de ministérios para 23 e nomeou apenas 22 super-ministros, que tomaram posse sem que estivesse ainda designada a respectiva pasta (a título de comparação, o anterior executivo liderado por Manmohan Singh, do partido do Congresso, tinha 78 ministros).
Mas foi na gestão dos dossiers diplomáticos e internacionais que o novo homem forte da Índia mais surpreendeu até ao momento. O convite endereçado ao seu congénere paquistanês, Nawaz Sharif, para participar na cerimónia de posse e para uma cimeira bilateral no dia seguinte, foi considerado como uma “jogada astuta” pelo antigo dirigente do serviço de informações externas de Nova Deli, Vikram Sood, em declarações à Reuters. “Foi uma decisão fantástica e que sem dúvida contribuirá para uma apreciação mais realista da trajectória da Índia em termos de política externa nos próximos anos”, concordou em editorial o diário India Express, acrescentando que “o que importa é a perspectiva de um Governo mais confiante e preparado para negociar com os seus vizinhos sem ser na base do protocolo e do precedente”.
A disputa da região da Caxemira alimenta a tensão e o rancor entre os dois países vizinhos, que nos últimos 60 anos já travaram três guerras. Modi sempre se definiu como um “falcão” nesse braço-de-ferro: no entanto, como assinalava Sood à agência britânica, a abertura diplomática aos restantes líderes da Associação para a Cooperação Regional do Sul da Ásia “é um bom augúrio e terá sido um primeiro passo para a melhoria das relações se vier a ser seguido por outras decisões bilaterais e multilaterais”. Numa primeira reacção, o Paquistão e o Sri Lanka anunciaram a libertação de centenas de pescadores indianos detidos por entrar em águas exclusivas dos respectivos países.

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